quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sozinho




Penei no meu caminho
como se fosse o certo
Atravessei a rua
com meu passo tímido
Olhar atrás dos óculos
pupilas frenéticas
Mastigando meu chiclete
gosto menta ácida.

Mirei olhar pra cima
ofuscando a vista
A lágrima brotou
no rosto antes pálido
A certeza da certeza
se desfez em dúvidas
Tudo que eu acreditava
Voou, borboleta.

Eu caço teu carinho
como um respiro
Corroo minhas falhas
fagulha de lástimas
Te quero, te preciso
do meu lado único
Aceito tua ida
e minha vida cinza
Com ódio de ganhar
a tua despedida.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010



No altar do sultão tudo é riqueza.
Aneis para os dedos
Armas para os zelos
E um querer mandar sem sutileza.

O cálice, com ópio
O mámore, colóquio
E amor de sultana. Proeza.

Frutas para morder
manifestos para querer
E talvez um trono. E paciência.

Linhaça
Cachaça
Açúcar
Sem fim.

O amor, que é só amor
ali não rima com nada.
O poema, que é som, andor
ali empedra. 


Majestade cansada.

Descomeçar



Eu conheço o medo de ter medo
e meço, na medida mediana
a angústia de esquecer o que não deu.

Lembra, se puder
o pudor que tínhamos outrora
a cena, enquadrada, vislumbrada
sanatória
e
me diz
agora
onde é que vais colocar as mãos?

Não tenha medo. Por ti, eu já tenho.
Transpassa o passo no mundo afora
Te faz pena leve, em vento forte
Me come, me chupa. 
Me namora. 




quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Madalena



A Madalena me ligou. E quis carinho.
Não sabia absolutamente o que dizer, o pranto comunicava tudo. O telefone, molhado do outro lado, escorre mais do que agruras. Escorre. Choro e dor.

Pode vir o que for do lado de lá. Sempre tem jeito.
A vida me deu o presente de estar na lista telefônica dela. Na memória do chip do aparelho. Como último recurso contra o que tinge o seu rosto de maquiagem borrada.

Nada mais para acreditar. Além do que você já viu, Madalena.
Grita para comemorar. Torce para amanhecer. O tempo não manchará mais do que o lenço que te faz compania presente. Adere ao suspiro livre, ao vento que baila teus cabelos na calçada.  Crê no brinde da taça de vinho, no vermelho que marca a digital do teu beijo, no cristal do copo de extrato de tomate.

Ele não voltará, querida. E isso é bom.
Orquestra sinfônica de silêncio. Te compro um ingresso, e tu vais sozinha.
Tudo vai passar. Inclusive, esse teu sôfrego engasgo de resposta.
Encosta, no sofá rasgado, e dorme.
O que tu precisas é de um pouco de abraço de ninguém.

Candidatura





Lanço aqui minha candidatura. Tanto faz se para deputado, senador ou prefeito. Essa escolha também fica por sua conta. Vou aproveitar ao máximo os luxos da democracia.

Seria injustiça se não colocasse meu nome ao seu dispor, caro eleitor. Em primeiro lugar, lhe asseguro que não farei nada por você. Nem pela pátria. Nem por ninguém que não me interesse (e isso é bastante gente).

Não sou bobo em ir contra a maré. Ninguém faz nada, não sou eu quem vou fazer. Corro o risco de ser alvo de olhares pecuniosos, nada peculiares. Minha mais forte característica é a preguiça. Aliás, esta palavra vai fazer parte do meu slogam eleitoral, de alguma maneira. Assim que eu tiver disposição, penso em algo.

Então, minhas ferramentas para fazer alguma coisa útil serão não fazer absolutamente nada. Meu partido será o mais absoluto mal senso. Receberei meu salário, encargos, comissões e caixa-dois com amor ao povo, aquele que compõe os metros quadrados da minha casa. Talvez algum mendigo do Parcão, se me cativar a bondade momentânea. Mas desde já não garanto.

Caso você, passivo eleitor, dedique a mim seu voto nas caixas mágicas, teclando meu número ao contemplar a foto sorridente, lhe agradeço. Aquele boneco que me representa será o máximo de contato que terás comigo. Depois daquilo, te peço que me ignores. Eu farei o mesmo, honrando meu brasão que nada tem de verde e amarelo. Ignorar não deve ser pedir demais para um ignorante.

Ao receber os dez contos mensais, sairei para festas e comprarei quindins.  Talvez fique mais generoso nos pequenos roubos diários, milímétricos delitos, no troco do pão e do leite  na venda da esquina. Isso se não encotrar o mendigo citado acima. Concorro a um cargo político, não a uma vaga de padre na capela do centro da cidade.

Se eu melhorar minha vivência, encostar em travesseiros de pena de ganso, o povo ganha. Isso porque, sendo eu parte da humanidade, e nós um conjunto, quando um melhora, os outros também. Mesmo que seja espiritualmente. Minha fortuna a todos agrada. Ou deveria, se fossem espertos.

Depois, ao invés de me reeleger, escolho uma mulher qualquer e lanço para minha vaga. Mulheres cativam. Já vou ter não trabalhado bastante. Sonho, mais do que tudo, com a aposentadoria. Se não vingar, contrato alguém para quebrar o sigilo bancário da minha finha e cunhado, os quais eu sustendo à pão-de-ló, vinhos e queijos. Digo que foi meu concorrente.

Convenhamos. Podes me taxar de qualquer coisa. Mas não de criativo.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nós somos diferentes?

























Nós somos diferentes?

Realmente, um post sobre as discrepâncias humanas é algo difícil de se construir. Sendo que, invariavelmente, todos acham já ter a resposta sobre a dedução que abriu esse post, na ponta da língua. Cada um com a sua. E todos pra lá de certos.

Porém, já pensaste que pode existir uma conclusão mais unânime? Algo mais paupável, em que possamos nos enrraigar mais fortemente?

Meu cabelo não é igual ao teu / O teu nome nao fui eu quem deu. Já dizia aquela música.
Mamãe costumava falar sobre isso de maneira menos "pop" e taxativa. Explicava que meninos tinham pintinho e meninas uma outra coisa, inominável. Talvez ela achasse que xexeca, buceta ou outra coisa do gênero poderia traumatizar a cabeça de uma criança. E se eu perguntasse a ela novamente, agora mesmo, qual seria a resposta? Igualmente cuidadosa? E vou mais longe... qual seria a resposta da SUA mãe? Qual o vocabulário de explicações dela?

Eu não tenho equivalentes. Não sou idêntico a ti, nem a minha mãe. Não tenho as mesmas respostas que ela, nem as mesmas que tu, nem as de ninguém. Nem pretendo ter. Não PRECISO ter.

E essa já é a resposta pronta de todos. E a minha também.