quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Silêncio - O "resto" da linguagem


O breve instante de tempo, calado
Quando o sentido faz mais sentido
(E é mais sentido)
O mudo atravessa as palavras
E expõe a carne, não só a língua.

A censura do som é alma
O fôlego da significação.
Usada quando se tem palavras, é arma
E quando já não se tem, conclusão.

A frieza dos modos gramaticais
Nada pode contra ele, quando bem posto.
Pois, se eu mudo, mudo o mundo
Defino tudo:
- A verdade é silênica!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Canto à coragem - (Prece do Covarde)


Se ela vai, que bem ligeira
Logo assim passa o perigo
Corriqueira, não serás
A coragem, o desvio.

Vem pra mim, novidadeira
Vem brindar-me com teus laços
Vem fazer tricô, bordado
No meu peito de tecido.

Vem fazer café no pano
Ver cozir linha e comida
Vem depressa, toma guia
Que o café já já esfria

Vem calçar-me uma meia
O sapato, vem lustrar
Que preciso, inda em breve
Tango e salsa desfrutar.

Vê se fica, não se esconde
Me acompanha nesa lida
Me encara, dê pujança
Te incorpora, aqui, querida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Menino


Era uma vez, um coletivo de desejos.
Todos eles entrelaçados.
Correntes, com elos soldados à brasa das vaidades.

E na corrente tentativa
de ativá-los, impô-los em sua vivência,
um menino ruiu.

Se pôs ao norte de suas façanhas,
ao sul de suas conquistas.
Pode, então,
contemplar o que de verdade lhe faltava como arte.

E na ruína, o menino riu.
Viu que não lhe faltava a escultura,
a pintura,
a música.

Em pedra-sabão a escultura da vida estava iniciada.
A pintura dos sonhos, preparada na palheta.
A música das palavras,
doce,
ecoando aos quatro cantos.
Tudo leve, a sua disposição.
Como bolha de sabão.

A Ruína se tornou, então, RIMA.

E sem amarras,
livre de qualquer peso que o liquefazesse,
ou aniquilasse,
Ele seguiu.

Sem erros ou negações,
Com zelo e pregações
Alçou voo.

Bolha de sabão.