sábado, 9 de agosto de 2008

Carpete


____Tento me controlar neste dia preto e branco, ranzinza. Com a minha cara no espelho, pálida. Nesta tela de blog, que nunca foi tão negra, parda e cinza.
____Boa notícia: o mal não está mais aqui! Nos bolsos, nas bainhas nem nas partes sujas da minha calça desfiada. E até já sinto falta dele, tributo a um atencioso companheiro, andarilho de estrada.
____Desfilo pantufas pelo carpete sujo de bolachas velhas, a procura do que seria a analogia ao bem. Ao meu próprio e inequívoco bem. Garimpo em vão e tão ao léu. Nem as gatas quiseram terminar com o pouquinho que ainda sobrou ali, do lado da cama, inconseqüente. E ai me refiro aos biscoitos, obviamente.
____Mas eu compreendo, já que existem coisas que também não me descem a garganta mesmo eu sendo racional. E muitas vezes as “bolachas” que eu não consigo deglutir são até mais doces do que as migalhas encruadas entre as lãs do carpete, em fragmentos gosmentos. Na aspereza de algo colocado para proteger os pés do frio, mas que acaba por blindar também contra calor. A antiga história da causa e conseqüência, tão conhecida e sem consistência.
____Se bem que elas (as dificuldades) são igualmente de mau aspecto. Porém estas encontro entre as lãs cinza do meu cérebro, esparramadas num canto onde nenhum aspirador de agruras pode ter acesso. E, portanto, limpar fica difícil. Por isso lá permanecem, com a maior inocência do mundo, criando fungos e se tornando cada vez mais indigestas. Fisicamente feias e biologicamente intragáveis. Para homens e felinos.
____Conclusão: Para a sujeira dos meus pés um esfregão e um pouco de água resolvem. Para as da cabeça, nem que eu esfregasse até o fim da escova e usasse toda água subterrânea de algum lençol freático por ai. Não tem como freá-las. Elas estão tão encruadas na mente, refletidas nos costumes, e nenhuma ação voluntária pode surtir efeito. São como gatos no cio, seguindo seu instinto de sobrevivência. E com medo de água. Neste e em todos os outros casos, das assustadoras águas da Razão.

domingo, 3 de agosto de 2008

Inércia estanque

_____Impossível não se sentir pequeno aqui. Sibéria individual.
_____O inverno chega ao coração, além de congelar as orelhas e forçar um casaco de lã, lânguido. Sistema de devoção.
_____Tudo o que foi concluído durante uma pseudo vida ainda é pouco comparado a 5 segundos de fúria sentimental. Poucas vezes eles se responsabilizam e desfiguram tanto meu rosto. Agora, não mais têm força pra isso. Silenciosamente, o corpo ainda sofre o que o consciente já não precisa mais suportar. Estou forte, estamos atentos. Morte súbita da esperada covardia. Refluxo de júbilo. Tudo vira poeticamente admirável, quem diria.
_____Literato. Complexo. Engrenagem movimentadora de loucuras, esta é a súmula da realidade. Resumo de retóricas que engasgam e não são ditas, melhoras que brotam e não são sentidas. Sentidos que destoam e confundem, setas apontando para todos os lados, mais de uma saída. Fechadura com mais de um segredo, novela com mais de um enredo. Alavancas que atravancam o caminhar, ao invés de levantar. Verbos que remetem a estagnação, ao invés de movimentar. Novelos de lã que enforcam ao preço de esquentar. E contudo o todo, e todos, na sua estante. Com seus olhares tão langues, insistindo na quebra de uma inércia que não tem sentido de estar.