quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Candidatura





Lanço aqui minha candidatura. Tanto faz se para deputado, senador ou prefeito. Essa escolha também fica por sua conta. Vou aproveitar ao máximo os luxos da democracia.

Seria injustiça se não colocasse meu nome ao seu dispor, caro eleitor. Em primeiro lugar, lhe asseguro que não farei nada por você. Nem pela pátria. Nem por ninguém que não me interesse (e isso é bastante gente).

Não sou bobo em ir contra a maré. Ninguém faz nada, não sou eu quem vou fazer. Corro o risco de ser alvo de olhares pecuniosos, nada peculiares. Minha mais forte característica é a preguiça. Aliás, esta palavra vai fazer parte do meu slogam eleitoral, de alguma maneira. Assim que eu tiver disposição, penso em algo.

Então, minhas ferramentas para fazer alguma coisa útil serão não fazer absolutamente nada. Meu partido será o mais absoluto mal senso. Receberei meu salário, encargos, comissões e caixa-dois com amor ao povo, aquele que compõe os metros quadrados da minha casa. Talvez algum mendigo do Parcão, se me cativar a bondade momentânea. Mas desde já não garanto.

Caso você, passivo eleitor, dedique a mim seu voto nas caixas mágicas, teclando meu número ao contemplar a foto sorridente, lhe agradeço. Aquele boneco que me representa será o máximo de contato que terás comigo. Depois daquilo, te peço que me ignores. Eu farei o mesmo, honrando meu brasão que nada tem de verde e amarelo. Ignorar não deve ser pedir demais para um ignorante.

Ao receber os dez contos mensais, sairei para festas e comprarei quindins.  Talvez fique mais generoso nos pequenos roubos diários, milímétricos delitos, no troco do pão e do leite  na venda da esquina. Isso se não encotrar o mendigo citado acima. Concorro a um cargo político, não a uma vaga de padre na capela do centro da cidade.

Se eu melhorar minha vivência, encostar em travesseiros de pena de ganso, o povo ganha. Isso porque, sendo eu parte da humanidade, e nós um conjunto, quando um melhora, os outros também. Mesmo que seja espiritualmente. Minha fortuna a todos agrada. Ou deveria, se fossem espertos.

Depois, ao invés de me reeleger, escolho uma mulher qualquer e lanço para minha vaga. Mulheres cativam. Já vou ter não trabalhado bastante. Sonho, mais do que tudo, com a aposentadoria. Se não vingar, contrato alguém para quebrar o sigilo bancário da minha finha e cunhado, os quais eu sustendo à pão-de-ló, vinhos e queijos. Digo que foi meu concorrente.

Convenhamos. Podes me taxar de qualquer coisa. Mas não de criativo.

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