terça-feira, 30 de junho de 2009

Palhaçada!

Ô, palhaço.



Licença para tal termo. No pejorativo.


Estou farto deste espetáculo engraçado, de mancadas ensaiadas. Do alto destas pernas de pau, o que mais sinto é ânsia. O nariz vermelho já não combina mais com meu papel, com meus anseios. Poderia atear fogo a este picadeiro, cortar as cordas que sustentam as estruturas gastas, em um truque de mágica roubado de outro personagem, desaparecer. Porém, os ingressos já estão pagos, as cadeiras lotadas com os mesmos espectadores. Sedentos de gargalhadas as minhas custas. Caçoam de mim, e este é meu trabalho. Para isso existo. Por isso, queria deixar de existir.

Não sei se notaste a minha roupa. Os babados gastos que colorem minha fantasia e a maquiagem borrada, escorrida, não fazem parte do figurino. São estado de espírito. Elas te fazem rir ao preço da minha vergonha. E, quanto mais retoco os erros, persisto nas esquisitices bizarras, mais tu te divertirás. Por isso, deixa eu me aprontar... O TEU espetáculo precisa continuar.
Custo a acreditar, mas estou sobre os holofotes novamente, imóvel. Posso ouvir tímidos tilintares de pipocas em teus molares, sucção em canudos de refrigerante. Esta é minha deixa. Por isso, deixa eu brincar de existir.

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