terça-feira, 20 de maio de 2008

Parafraseando dores

_____Já não era sem tempo. As lágrimas se metamorfosearam em sorrisos. Sorrisos, aqueles mesmos que estavam lá no fundo, soterrados, aguardando a hora certa de enfeitar o meu rosto. Decididamente esperavam ansiosos o momento certo de aparecerem onde outrora não abriam mão de estar, devido às alegrias dispostas e insistentes. E por um momento achei que eles não retornariam tão cedo, estava confuso, triste e sem cor.
_____Agora é o momento de mostrar e não mais ranger os dentes, é hora de lembrar com saudade e só permitir lágrimas de felicidade. Fortuna por ter vivido momentos intensos, realizações eternas e tudo o que se pode explicar como amor, aquele sentimento repleto de segredos, proteção e com leve aroma de alecrim. O mesmo vento que sopra no corpo e condena a falta da pele escancara uma presença nunca tida do espírito. É, com certeza, muito melhor amar por amizade do que se desgastar em algo sofrido. Não suprir as expectativas de outrem é suicídio. E não ser capaz de entender gestos, trejeitos e jeitos puramente aceitáveis, mas que a massa cinzenta do mínimo preconceito embutido não permite aceitar de maneira plena, é assassinato. E não quero matar o único trevo de quatro folhas que encontrei no caminho. Quero adubá-lo e vê-lo crescer frondoso, com a minha ausência.
_____Encontrei uma alma diferente, complexa, mas nem por isso menos nobre. A minha própria. Coisa que eu nem havia pensado que aconteceria. Me resumi no afastamento do que realmente tem importância em meio a um turbilhão de emoções mal feitas e sem contorno definido. Livrei-me do cárcere imposto pelo escândalo que é se auto aceitar. Me firmo no que é querido com paixão, derrapo nas palavras limosas que saem sem ter a mínima necessidade. Solto um grito de socorro e alegria, em Libras.
_____E depois de toda essa divagação asseguro que me alegro com o soltar de pipas e o empinar da vontade de ser feliz. Não vou me distanciar do que é concretamente importante pra mim, por mais que não possa sentir a respiração deste no meu corpo. No lugar disto posso sentir a minha, cada vez mais ritmada e profunda, cada vez mais certa do que se tornou marca no meu coração.
_____As pessoas não precisam ser necessariamente amantes para oferecerem carinho, atenção, respeito e amor verdadeiro. Na verdade, até melhor que não sejam, as coisas ficam bem mais lúcidas e as evidentes qualidades saltam aos olhos como nunca dantes. É extasiaste querer bem sem esperar recompensas. Uma forma inovadora de proteção, um carma que mantém no presente o que se viveu no passado e transforma tudo em saldo positivo para o futuro, o qual já está ai.
_____Mas e a vida, me encontro sozinho? Nunca. Não da forma abrangente que esta expressão tem, com o peso nefasto de não se ter nada. Tenho muita coisa, entre elas, a temida lucidez. Algo entre luz e acidez. Entre amor e amizade. Entre o tudo numa palavra só, de maneira diferente. Da mesma maneira contínua, desigual e eterna que foi e é esse querer bem sem precedentes.

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